sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Estado Socialista e o estado a que isto chegou

A manifestação de 15 de Setembro e a glorificação barata que se seguiu das motivações dos revoltosos produz um belo retrato sociológico deste país. Os portugueses reclamam e criticam de uma forma tão grosseira e ignorante que não é possível pensar na manifestação como mais do que apenas uma emanação física de todos os erros do passado e do desejo pulsante de continuar a cometê-los.

Os portugueses parecem não conseguir assimilar esta verdade absoluta: não existem medidas, soluções e alternativas indolores para ultrapassar esta crise. Qualquer pessoa que diga o contrário está incluída numa destas hipóteses:

a) É estúpido

b) É ignorante

c) É mentiroso

d) É louco

e) É socialista (todas as anteriores)

f) É comunista (todas as anteriores)

g) É o António José Seguro* (todas as anteriores)

O país foi virtualmente à falência. Aquilo que nos levou à falência foram as ideias que a maior parte dos portugueses (e a quase totalidade dos manifestantes) ainda defende. A única coisa que nos separou da bancarrota oficial (alternativa que mostraria aos portugueses o que é a verdadeira austeridade) foi a intervenção e o empréstimo concedido pelo Tróica. É por causa dessas três instituições (BCE, FMI, CE) que ainda é possível manter um funcionamento relativamente estável das instituições públicas e dos serviços que elas proporcionam.

Existe uma abundância tremenda de coisas para criticar na conduta governativa da coligação entre o PSD e o CDS. Mas nenhuma das querelas dos manifestantes apresenta a validade necessária para constituir uma crítica, quanto mais uma crítica construtiva. Criticar envolve diagnosticar o erro e apresentar uma alternativa e isso, para um português, representa uma responsabilidade grave e sufocante.

O Passos Coelho não é um “gatuno”. Ele não está a cortar salários e a amealhar o dinheiro dos contribuintes numa conta pessoal nas Ilhas Caimão. Ele não tem um jacto à espera dele num aeroporto privado para o caso de ser necessário uma fuga repentina. Ele nem sequer é o verdadeiro culpado desta austeridade.

A austeridade actual só tem um culpado: os portugueses. É por causa da pressão pública que o governo está relutante em fazer reformas estruturais e os cortes necessários na despesa pública. É por causa da revolta juvenil portuguesa que o Governo está a sanear as contas públicas da forma mais branda possível, instituindo sequências de meias-soluções para resolver problemas enormes. O único resultado que pode surgir é o prolongamento incerto do sofrimento.

Quando o Governo corta salários e aumenta impostos, está a fazê-lo para maximizar a receita fiscal. E, digo mais uma vez, essa receita não vai para o bolso dos políticos. Essa receita é utilizada para pagar tudo o que os portugueses exigem do seu governo: saúde, educação, segurança social, transportes e segurança. Essa receita é utilizada para pagar o salário daqueles que mais reclamam: os funcionários públicos. O malfadado corte do subsídio de Natal e Férias aos funcionários públicos foi feito para que fosse possível pagar os restantes doze salários.

Não se enganem. A austeridade actual é o modo que o Governo arranjou de vos manter minimamente satisfeitos. Se o Primeiro-Ministro fizesse aquilo que ele defendia antes de chegar ao poder, os portugueses ficariam chocados com o que seria necessário para conseguir atingir esses objectivos.

Seria necessário despedir dezenas de milhares de funcionários públicos, extinguir e privatizar empresas públicas, realizar cortes abrangentes no Sistema Nacional de Saúde, diminuir a presença do Estado na Educação e reformar (cortar) a Segurança Social. Só assim seria possível cortar verdadeiramente a despesa pública, eliminar o défice e iniciarmos uma trajectória económica que permitiria começar a diminuir a dívida pública a longo prazo.

Mas se o Governo fizesse isso, os portugueses não votariam no PSD e no CDS nas próximas eleições. Se o Governo fizesse aquilo que é necessário, os portugueses votariam naquele homenzinho simpático de óculos que promete dinheiro e emprego para toda gente. Se fossem confrontados com o peso da realidade, os portugueses iriam preferir as promessas tóxicas do *Pai-Natal socialista que diz que a culpa não é nossa e que, afinal, somos todos bons meninos e merecemos muitos prendas.

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