quinta-feira, 18 de julho de 2013

Hiato estival









Nos próximos 10 dias os autores do blog estarão de férias, com o primacial propósito de encontrar Fernando Seara em terras de Sintra. Que seja possível, retornados, fazer uma composição imagética menos alucinada sobre a actualidade política nacional.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Não tem nada a ver com o Governo



Uma boa notícia: a Biblioteca Nacional Digital tem uma nova interface. A ocasião é válida para proceder à sua divulgação. A BND comporta um considerável número de obras disponíveis para consulta em pdf, trespassando os diferentes períodos da literatura portuguesa, em grande parte dos casos com edições originais ou de época. Vale a pena.

Cada um vai realizar diferenciadamente a sua pesquisa, embora acredite que quase todos acabem, mais cedo ou mais tarde, por chegar a Pessoa. Também o fiz, evidentemente. E, embora não precisando, fica o seguinte link, directamente da pena do supra-Camões, como exemplificativo residual das pérolas às quais é possível aceder do espólio cultural lusitano: http://purl.pt/13962

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O Estado das coisas




Findado o período de indefinição política, e proclamada a fórmula semi-presidencial de “salvação nacional”, de Aníbal Cavaco Silva, fica como consolo Paulo Portas não ter sido presenteado pela descarada e chantagista manobra política que o seu pérfido e ungulado espírito desenhou, com o país pelo meio. A imprevisível decisão do Presidente da República tem como característica deixar, sem excepção, toda a classe partidária defraudada, com o acordo de PSD e CDS chumbado, o PS sem as eleições legislativas antecipadas que queriam simultâneas com as autárquicas, e BE e PCP arredados de equação. Simbolicamente reconfortante, mas insignificante.

Revolve a associação política do PS ao memorando, furtando outra tentativa de ilusionismo despudorado, tentar fazer por creditar que não há relação alguma entre a carga fiscal que é necessária actualmente e as expansivas despesas conducentes a Portugal ficar num estado de insolvência, e dependente de financiamento externo, bem como, abstracta e sistematicamente, que Matemática é tão elástica quanto um jovem chinês de 16 anos e que a palavra crescimento é o Wingardium Leviosa da teoria económica.

Do que resta da coligação é fácil de falar. O mar de contradições é grande e as feridas ululantes. É um acto de fé poder acreditar que uma coligação que durante dois anos foi publicamente disfuncional, sendo a sua existência ameaçada pela demissão do líder do menor dos partidos, transfigure-se e passe a ser articulada e eficiente quando afinal somente se levou um puxão de orelhas pelo meio. E quando o que mudou é o seguinte: fica o partido socialista vinculado, nos próximos episódios saberemos em que dimensão, e como Ministro das Finanças sai Vítor Gaspar para entrar Maria Luís Albuquqerque, nada menos que a nomeação que impeliu Portas a importar para a política o estilo de Francesco Schettino; coincidentemente, nem o povo português viu com bons olhos a obediência de Portas à sua consciência, nem o mundo em geral ficou esperançado na espécime humana com a atitude do capitão do Costa Concordia. Relativamente ao que seria premente verdadeiramente debater, de resto, o paquidérmico líder do CDS tem em mãos a reforma do Estado, e já deveria ter apresentado um documento a tal respeito no mês passado. Coisa pouca e irrelevante, adiemos a discussão, e só se nos recordarmos de a fazer.

De todas as contradições, a maior será, efectivamente, termos este cocktail digno de um bar de Pedrógão, sob a égide semântica da estabilidade nacional, quando foi a própria coligação a definitivamente comprometê-la. Não pretendo retirar-lhe as suas virtudes. É custoso vê-la imprudentemente desconsiderada e reduzida à força de uma frase por ser tão obviamente necessária numa altura como a actual, de lamentável perda de soberania, ainda que seja algo ao qual a masoquista democracia portuguesa, perfeitamente descritível como um viciado com problemas de reabilitação, pareça começar a estar habituada.

Hoje houve debate parlamentar sobre o estado da Nação. Como em qualquer parlamento que não sabe separar o particular do geral, nem reparar que infelizmente os nossos fatais problemas vão muito além da crise de meia-idade de Portas, discutiu-se o estado do Governo. Oremos, irmãos desafortunados.

sábado, 6 de julho de 2013

Breves apontamentos mentais de um dia longo de trabalho


- É incrível a quantidade de homens de Famalicão que são semelhantes ao semi-ditador cubano, Raúl Castro.

- Todos os dias de manhã um homem fuma um cigarro à janela de um prédio em tronco nu. A sua mão direita segura um cigarro. Eu não sei se o homem está completamente nu, mas tendo em conta a posição em que se encontra a sua mão esquerda, estou muito preocupado.

- Tenho uma ideia brilhante para um novo negócio: clínicas dentárias low-cost. O segredo está na localização das clínicas. Serão concentradas em locais estratégicos como Gondomar e Areosa, onde o estado da nação dentária é precário.

- A existência ubíqua de tatuagens em espécimes nessas mesmas localidades, com as incrições "Amor de Mãe", "Amor de Pais" ou com temas marítimos, é alarmante.

- Ainda existem muitas mulheres que querem casar e ter filhos antes dos vinte e quatro anos de idade. Que Deus me ajude.

- Ninguém sabe o que é o défice, mas toda a gente sabe qual é a solução para crise, e nenhuma dessas soluções exige o corte da despesa pública.

- Há quem escreva "febras" ao invés de "fêveras". Tenho dúvidas sobre qual dos dois vocábulos é a forma mais correcta. Há também quem escreva "bábulas" ao invés de "válvulas". Tenho a certeza sobre qual é a forma correcta. Pelo menos ainda não vi ninguém dizer ou escrever "Presidenta".

- Existe uma relação inversa entre a desteridade de um condutor e a quantidade de fumo negro exalado pelo veículo.

- Quase todos os cartazes eleitorais que tenho visto no Norte choram por ajuda ao nível da comunicação política.

- Aos mulheres da Trofa deveriam saber que pintar o cabelo de loiro não é uma injecção automática de beleza. Especialmente quando a operação estética parece ter sido realizada pelo Fábio Coentrão.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Fim da coligação: primeiras notas

- Não vi ninguém do CDS na tomada de posse da Maria Luísa Albuquerque. O que foi noticiado foi a demissão do ministro de Estado e Negócios Estrangeiros; a ruptura da coligação, ainda que previsível, não está oficializada. Assim, os ministros e secretários de estado do CDS faltaram à cerimónia, seguindo Paulo Portas como ovelhas que são. Se Portas tivesse elogiado a escolha de Maria Luísa Albuquerque, teriam comparecido, sorridentes, aprumados e igualmente elogiosos.

- Cavaco Silva está aliviado. Já não está nas suas mãos a queda do governo.

- A saída de Vítor Gaspar, pouco antes da última avaliação da troika, deixa-nos com um futuro incerto, mas deveras preocupante. Os juros da dívida, esse sugador demoníaco que faz a Merkel esfregar as mãos, já dispararam.

- O grande problema das políticas erróneas deste governo é que ficaram coladas a uma definição de "ultra-liberalismo" rotulada de forma leviana e demagógica. Terá uma consequência óbvia: uma guinada brusca do próximo Executivo na direcção contrária a este ultra-liberalismo, sem consciência que irão esbarrar num muro de dívida e défice.

- António José Seguro será o próximo primeiro-ministro, mais precocemente do que era preconizado. A única hipótese, altamente remota, de isto não se verificar é a demissão de Passos Coelho e a ascensão de um candidato do PSD que esteja publica e politicamente incólume e credível. Veremos se AJS conseguirá a maioria absoluta; quer consiga, quer não, Paulo Portas, para salvar o próprio couro, cavou ainda mais a vala em que o país se encontra soterrado.