sábado, 15 de setembro de 2012

Contradições


Cegados pela constante poeira levantada, torna-se uma tarefa cada vez mais árdua rotular as diferentes forças políticas nacionais se nos basearmos em políticas concretas, deixando de parte as linhas orientadoras e paradigmáticas das ideias gerais de um partido. Podemos fazê-lo, e aí deparamo-nos com uma história política recente deveras curiosa: o antigo governo, de centro-esquerda, cai porque o partido de centro-direita se escandalizava com a incidência dos impostos sobre o rendimento dos portugueses, garantindo que, cortando de outra forma na despesa, não haveria esta necessidade. Até aqui, tudo bem. Chegada ao governo, o centro-direita aumenta mais os impostos, dando a volta de forma pouco ardilosa quando estes são considerados anticonstitucionais.

Este governo "neo-liberal" cobra mais impostos sobre rendimentos e consumo e gasta mais em Segurança Social do que o anterior Executivo "socialista". Uma contradição ideológica (suportada pelo enorme bode expiatório que é a anterior liderança nacional e a atual governação internacional dos credores) e, mais do que isso, um paradoxo resultante da própria política do PSD, que tem de gastar mais a ajudar aqueles que se tornaram mais necessitados com as próprias políticas governamentais. Contradições deliciosas, mas não tão descaradas como são as auto-contradições: a de que, se tudo dependesse do PSD (entretanto agraciado com uma virtual maioria), o défice estaria fixado em 3% neste malfadado ano de 2012, quando tivemos agora de renegociar o abaixamento da fasquia para 5%. Não o défice, mas sim a meta, a melhor das hipóteses.

E agora, o PS volta a ganhar a frente nas sondagens, mesmo sendo liderado por um fantoche monocórdico sem ideias. Não rotulemos mais. No poder, todos parasitam gananciosamente aqueles a que o Marcelo chama de "mexilhão"; na oposição, reina o socialismo, não o socialismo estrutural, mas o socialismo de caridade, de promessas de ajuda à mão estendida. Vivemos nesse ciclo sebastianista, onde todos se anunciam salvadores e todos se revelam fraudes.

E depois há Sócrates. Nome de filósofo, charme de cavalheiro, carisma de monstro político, um megalómano que quis dar tudo aos portugueses e acabou por tirar-lhes aquilo que tinham e, mais grave, o que ainda não temos. Ele contradizia-se diaramente, mas lá socialista era ele. Não sei, portanto, como encarar Sócrates: como um exemplo perfeito daquilo sobre o que discorri nestas linhas; ou a excepção que confirma a regra.

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