“José, 28 anos, está em greve de fome até conseguir emprego”. É o que estava escrito no título de uma notícia do Público. À primeira vista, a frase parece o início de um mau romance escrito por Kafka. Na realidade, José é um designer de 28 anos que estava a realizar um protesto sentado na Rua de Santa Catarina no Porto, em frente a uma confeitaria, de modo a reivindicar “um emprego digno e um futuro justo”.
O que o José decidiu fazer não foi esforçar-se para compreender a situação político-económica do seu país. O José não necessita do empecilho de factos e argumentos. Não precisa de avançar com soluções exequíveis ou alternativas válidas. Aquilo que ele precisa é ver a sua vontade realizada e, para isso, escolhe o curso de acção de uma criança mimada.
O José pensa que o Estado pode, através de mágica, resolver a sua situação e a situação dos restantes desempregados deste país no curto prazo. E pior, o José pensa que o Estado pode e deve fazer isso sem aumentar os impostos ou sem cortar a despesa. Aquilo que o José, 28 anos, deveria fazer, especialmente tendo em conta sua idade, é ganhar juízo. Ele não sabe que ninguém no mundo, especialmente qualquer Estado, mesmo nos países mais desenvolvidos, pode garantir "um emprego digno e um futuro justo" a um cidadão.
O José quer culpar alguém. Culpa a entidade anónima de “pessoas responsáveis por esta situação”, culpa o Primeiro-Ministro, culpa a “agenda” ideológica, culpa os Centros de Emprego e até as pessoas que o ignoram na rua. Existem muitos responsáveis pela situação que vivemos e neles se podem incluir quase todos os portugueses. Se o José quer culpar alguém pela sua situação particular basta olhar para frente e observar o seu reflexo na montra da confeitaria.
Aquilo que o José não reconhece é que foi ele a escolher o seu curso de Belas-Artes, uma área afligida pelo desemprego e pela incerteza laboral. O José poderia ter escolhido um curso com maior empregabilidade. Ele parece relutante em aceitar um emprego numa área diferente da sua. O José quer ser “artista” e espera que o mundo abra alas para acomodar as suas criações gloriosas.
As greves de fome foram notoriamente utilizadas por presos políticos cubanos e membros do IRA. É uma ferramenta psicológica que os revoltosos utilizam em situações onde estão encurralados sem qualquer possibilidade de escapar. É utilizado pelas pessoas para quem as alternativas se esgotaram completamente. Em muitos casos, o resultado foi a morte dos grevistas.
Tendo isto em conta, duas coisas ficaram patentes. José não sabia o que estava a fazer. Não me parece que ele tivesse a coragem ou o idealismo cego para morrer pela sua causa. O que o José queria era tratamento especial. Queria um contacto exclusivo com o Primeiro-Ministro e queria que alguém lhe arranjasse um emprego. Para isso, utilizou a ameaça do seu próprio suicídio.
O protesto provavelmente era apenas simbólico. Ninguém (nem mesmo o próprio José) acreditava que ele acabaria por levar a acção até as últimas consequências. Mas isso não justifica a táctica infantil e chantagista, especialmente tendo a diferença entre o contexto português e o contexto habitual desse tipo de protesto.
Eu não tenho como saber se foi uma manobra de diversão ou se o José viu-se mesmo desesperado ao ponto de realizar uma greve de fome. A causa pela qual ele diz lutar é nobre, mas nunca justa o suficiente para este tipo de protesto. Mas esta história ensinou-me algo. Ensinou-me que, se alguma vez tiver um filho, ele não se chamará José. Os tempos estão difíceis mas, por pior que as coisas estejam, Portugal não precisa de mais Zés.
INfelizmente, os portugueses são nos vão dar ouvidos, daqui a muitos anos...É uma pena. Eu ja postei no faacebook a reclamar dos protestos que se fazem, de que há gente que não tem moral nenhuma, para estar a mandar vir, porque tem comida na mesa ainda. Ja veio dizer que veio reclamr pelos seus direitos. Direitos temos todos. Deveres, tmos a duplicar. Há que fazer sacrifícios.
ResponderEliminarHouve um gajo que veio dizer que veio reclamr, correcção feita ao meu comentário anterior.
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