sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Brincadeira terrorista

“José, 28 anos, está em greve de fome até conseguir emprego”. É o que estava escrito no título de uma notícia do Público. À primeira vista, a frase parece o início de um mau romance escrito por Kafka. Na realidade, José é um designer de 28 anos que estava a realizar um protesto sentado na Rua de Santa Catarina no Porto, em frente a uma confeitaria, de modo a reivindicar “um emprego digno e um futuro justo”.

O que o José decidiu fazer não foi esforçar-se para compreender a situação político-económica do seu país. O José não necessita do empecilho de factos e argumentos. Não precisa de avançar com soluções exequíveis ou alternativas válidas. Aquilo que ele precisa é ver a sua vontade realizada e, para isso, escolhe o curso de acção de uma criança mimada.

O José pensa que o Estado pode, através de mágica, resolver a sua situação e a situação dos restantes desempregados deste país no curto prazo. E pior, o José pensa que o Estado pode e deve fazer isso sem aumentar os impostos ou sem cortar a despesa. Aquilo que o José, 28 anos, deveria fazer, especialmente tendo em conta sua idade, é ganhar juízo. Ele não sabe que ninguém no mundo, especialmente qualquer Estado, mesmo nos países mais desenvolvidos, pode garantir "um emprego digno e um futuro justo" a um cidadão.

O José quer culpar alguém. Culpa a entidade anónima de “pessoas responsáveis por esta situação”, culpa o Primeiro-Ministro, culpa a “agenda” ideológica, culpa os Centros de Emprego e até as pessoas que o ignoram na rua. Existem muitos responsáveis pela situação que vivemos e neles se podem incluir quase todos os portugueses. Se o José quer culpar alguém pela sua situação particular basta olhar para frente e observar o seu reflexo na montra da confeitaria.

Aquilo que o José não reconhece é que foi ele a escolher o seu curso de Belas-Artes, uma área afligida pelo desemprego e pela incerteza laboral. O José poderia ter escolhido um curso com maior empregabilidade. Ele parece relutante em aceitar um emprego numa área diferente da sua. O José quer ser “artista” e espera que o mundo abra alas para acomodar as suas criações gloriosas.

As greves de fome foram notoriamente utilizadas por presos políticos cubanos e membros do IRA. É uma ferramenta psicológica que os revoltosos utilizam em situações onde estão encurralados sem qualquer possibilidade de escapar. É utilizado pelas pessoas para quem as alternativas se esgotaram completamente. Em muitos casos, o resultado foi a morte dos grevistas.

Tendo isto em conta, duas coisas ficaram patentes. José não sabia o que estava a fazer. Não me parece que ele tivesse a coragem ou o idealismo cego para morrer pela sua causa. O que o José queria era tratamento especial. Queria um contacto exclusivo com o Primeiro-Ministro e queria que alguém lhe arranjasse um emprego. Para isso, utilizou a ameaça do seu próprio suicídio.

O protesto provavelmente era apenas simbólico. Ninguém (nem mesmo o próprio José) acreditava que ele acabaria por levar a acção até as últimas consequências. Mas isso não justifica a táctica infantil e chantagista, especialmente tendo a diferença entre o contexto português e o contexto habitual desse tipo de protesto.

Eu não tenho como saber se foi uma manobra de diversão ou se o José viu-se mesmo desesperado ao ponto de realizar uma greve de fome. A causa pela qual ele diz lutar é nobre, mas nunca justa o suficiente para este tipo de protesto. Mas esta história ensinou-me algo. Ensinou-me que, se alguma vez tiver um filho, ele não se chamará José. Os tempos estão difíceis mas, por pior que as coisas estejam, Portugal não precisa de mais Zés.

2 comentários:

  1. INfelizmente, os portugueses são nos vão dar ouvidos, daqui a muitos anos...É uma pena. Eu ja postei no faacebook a reclamar dos protestos que se fazem, de que há gente que não tem moral nenhuma, para estar a mandar vir, porque tem comida na mesa ainda. Ja veio dizer que veio reclamr pelos seus direitos. Direitos temos todos. Deveres, tmos a duplicar. Há que fazer sacrifícios.

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  2. Houve um gajo que veio dizer que veio reclamr, correcção feita ao meu comentário anterior.

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