domingo, 23 de setembro de 2012

A relação dos portugueses com a democracia

Isaltino Morais: Presidente pela primeira vez em Oeiras em 1985. Em 2005, é arguido em processos de corrupção passiva, fraude fiscal, branqueamento de capitais e abuso de poder. O PSD, por isso mesmo, não o apoia na sua candidatura para a autarquia. Ainda assim, alcança a eleição, enquanto independente, com 34% dos votos, sob a égide de campanha "Isaltino - Oeiras Mais à Frente". Em Agosto de 2009 é condenado a sete anos de prisão, perda de mandato e uma indeminização de cerca de meio milhão de euros. Consegue, através de recursos ao Ministério Público, suspender a pena antes das autárquicas, de 11 de Outubro, podendo assim voltar a candidatar-se: é eleito com, desta vez, 41,52% dos votos. 

Fátima Felgueiras: Presidente da Câmara Municipal de Felgueiras, vê-se em 2003 acusada de corrupção, sendo emitida uma ordem de prisão preventiva em seu nome. Deserta para o Rio de Janeiro por ter dupla nacionalidade brasileira. Em Setembro de 2005 regressa a Portugal. É tão rapidamente detida quanto libertada, esperando por julgamento em liberdade. Candidata-se às autárquicas de Outubro do mesmo ano como independente: é eleita.

Valentim Loureiro: Eleito para a Câmara de Gondomar pela primeira vez em 1993. Re-eleito em 1997 e 2001. Em 2005, o PSD retira o seu apoio partidário devido ao escândalo "Apito Dourado", cujo processo judicial lhe dedicou quatro anos de pena suspensa em 2008. Candidata-se, porém, nas autárquicas de 2005 como independente: é eleito.

Exemplos de escolhas eleitorais por completo incompreensíveis e que só podem ser motivo de preocupação, para não estar a perder tempo em estilizar insultos. Numa altura em que foi recentemente publicada uma sondagem da Universidade Católica, que demonstra que 87% dos portugueses estão desiludidos com a democracia, e que não é para menos, convém não esquecer que somos nós que elegemos os políticos que tanto gostamos de insultar. A desresponsabilização do eleitorado num regime democrático é meio caminho andado para o sistema estar condenado. Se os governantes têm de assumir responsabilidades perante os governados que os destacam para essas funções, ressalta a gravidade da importância dessas escolhas, que emergem como corolário e são sintomáticas do nosso grau de ética e cultura. Nomear políticos que são reconhecidamente corruptos faz de nós mais conscienciosos cúmplices que eventuais vítimas e é indesculpavelmente anti-democrático. Só restam duas possíveis explicações: profunda ignorância e/ou conivência, desde que os nossos interesses estejam a ser atendidos, sem querer saber a por que meios e com que consequências.

As autárquicas vão ser daqui a sensivelmente um ano e era de muito bom tom que não estivessem novamente envoltas neste ensandecimento nada distante.  

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