segunda-feira, 10 de junho de 2013
Uma Sumária Retrospectiva Futebolística
Correndo o risco de ver este pedido de desculpas esbarrar na sua indiferença, caro leitor, não poderia deixar de começar por me penitenciar pela minha prolongada ausência. Posto isto, e porque terminou hoje definitivamente a época futebolística nacional com o amigável da selecção, gostaria de partilhar algumas curtas considerações sobre a temporada que agora finda.
Começando pelo fim (algo menos convencional mas mais conveniente) a equipa das quinas deixa-me sensações mistas. Uma sensação de que Paulo Bento está a confinar o crescimento da equipa, que sem a sua inábil contribuição poderia estar já a pensar no Mundial. Os seus erros são tão pornográficos que parece desnecessária a sua enumeração: João Pereira, Meireles e Postiga já passaram há muito o prazo de validade; e, dos quatro médios portugueses do Braga, Bento sempre convocou todos menos o melhor - entretanto transferido para as Arábias, chora o pobre mas honrado futebol nacional. Continua a haver potencial humano inegável. Muitos dos jogadores que brilharam na selecção na última década não indiciavam, no início da carreira, tanto potencial futebolístico como o que evidenciam já alguns jovens jogadores. Terá, naturalmente, é de ser-lhes dados jogos nas pernas antes de aterrarem na Roménia, Suíça ou Chipre. Nesse sentido, o regresso das equipas B será seguramente um grande incentivo. A crise talvez ainda mais.
O Porto foi campeão, e assumo que foi o título nacional que mais prazer me deu ver o meu clube a conquistar. Todos os anos o título nacional é previsível, esperado, comum. Este ano tornava-se altamente improvável. Daí que, quando o Kelvin desferiu aquele pontapé orgásmico, eu tenha festejado como um benfiquista; partilhava com eles, antes desse golo, a sua habitual descrença e rendição. Precisei de descer à terra para me aperceber do quão boa é a liberdade de voar. Não insistirei mais neste ponto, por respeito pelos dois benfiquistas que comigo partilham este espaço. Mas juntar o útil (saída de Vítor Pereira) ao agradável (conquista do campeonato) foi o desfecho ideal para uma temporada que se adivinhava trágica depois de três penalties falhados pelo Jackson, da exibição do Porto em Málaga e da Taça da Liga perdida para uma equipa que não conseguiu ficar à frente do Paços.
De resto, este final de temporada tem sido caracterizado por uma inauditamente precoce movimentação nos mercados. Ainda a final da Liga dos Campeões não tinha sido jogada, e já o melhor jogador de um finalista havia assinado contrato com o outro. Temos sido bombardeados, de há um mês para cá, com uma avassaladora quantidade de transferências asseguradas, rumores de empréstimos, treinadores em novos bancos. Um fenómeno habitalmente mais tardio, mas que a ausência de uma grande competição em anos ímpares (a Taça das Confederações são amigáveis glorificados), a noção por parte dos clubes de que o mercado está mais competitivo que nunca e a sofreguidão noticiosa justificam facilmente.
Há mais um novo rico no mercado, e dou-lhes as boas-vindas, acima de tudo porque fazem a aposta inteligente de confiar em antigas glórias do clube mais competente do planeta do futebol. Terão de ter cuidado os monegascos, porém, com um Platini cada vez mais dedicado a questões financeiras, impondo regras de fair play financeiro e tendo inexequíveis ideias de tectos salariais e equilibrios utópicos da balança comercial dos clubes. Sendo o clube francês, pode safar-se.
Poderá ser injusto assumir-se como efectivo que as altas instituições futebolísticas estejam tão preocupadas com o dinheiro. Veja-se, por exemplo, a escolha do Qatar para acolher o Mundial. Foi uma escolha atenta a tantos critérios logísticos que, só depois do anúncio, se aperceberam de que faz lá muito calor e o melhor seria realizar a competição no Inverno. O que levou a FIFA a escolher esse minúsculo e escaldante país, onde o petróleo é mais barato que a água (e que a cerveja, que é proibida) para acolher a maior competição desportiva do mundo? As infraestruturas, a cultura futebolística, a geografia ou a demografia? Talvez. Ou talvez isto.
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