terça-feira, 18 de junho de 2013

Portas Abertas

Paulo Portas falhou no malabarismo que sempre quis fazer entre ser cúmplice de medidas inevitáveis e ser o único escudo que compreendia e protegia o povo de ser pilhado até ao último cêntimo pela execrável máquina social-democrata. Tentou equilibrar-se no limbo, mas não conseguiu o melhor dos dois mundos. Mais: se à partida para esta legislatura, as diferenças ideológicas entre os dois partidos do poder eram tão óbvias em questões tão elementares como a do salário mínimo, a coligação nunca fez sentido. Foi criada em nome da estabilidade governativa em tempo de crise, mas parece ir culminar numa tentativa de Paulo Portas fazer uma fuga à lá Francesco Schettino, capitão do Costa Concordia.

Falamos aqui de Paulo Portas porque, apesar de ele se julgar oculto atrás da cortina, é ele o responsável pela moção do partido que o deifica, liderada por Pires de Lima e alicerçada por figuras proeminentes do CDS.

Os democratas-cristão escolheram bem a forma de voltar à oposição, com pregões esquerdistas, quer pela demagogia do conteúdo, quer por não serem explícitos na forma como (e por quem) serão pagos os aumentados salários. Admitem, de resto, a dificuldade de verem as suas propostas irem avante pela resistência dos sociais-democratas e da troika.

Encaro esta como a última auto-flagelação dos democratas-cristãos na tentativa desesperada de reganhar o eleitorado: tentam anunciar que há uma fórmula de ultrapassar a crise, e que essa fórmula já foi por eles encontrada, dentro do CDS e, consequentemente, dentro do Governo. Mas Passos, Gaspar e as instituições internacionais não deixam executá-la. A vil direita política, da qual o CDS parece querer demarcar-se, faz uso salazarista da maioria no parlamento e na coligação. Paulo Portas vai remando contra a maré ultra-liberal do PSD e dos credores e irá, ironicamente, afogar-se no populismo em que se refugiou.

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