sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Futuro Japonês


Quando se observam as especulações conceptuais realizadas na década de cinquenta sobre o que seria o mundo actual, verificamos que essas não passaram de divagações afastadas da realidade. Não existem robôs sencientes. As nossas armas de fogo não disparam raios laser. Não nos movimentamos em carros voadores. Ainda não visitamos nenhum planeta. Não existem colónias na Lua. Não nos alimentamos à base de comprimidos. O motor de combustão ainda é ubíquo.

Actualmente a humanidade ainda tenta prever, com um grau inferior de erro, o futuro da segunda metade do século XXI. O autor americano, Ray Kurzweil, é consagrado pelo seu trabalho relacionado com essa tentativa de previsão. Num exercício pseudocientífico que se situa algures entre a astrologia e a neurocirurgia o autor já fez diversas previsões que se concretizaram de forma semelhante ou parcial. A explosão da Internet, aumento exponencial da capacidade de processamento de computadores, o surgimento de tecnologia de tradução textual de voz e o aparecimento de carros de condução autónoma.

No entanto, as suas previsões aplicadas ao futuro próximo são consideravelmente mais audazes. Entre outras coisas, o autor teoriza o surgimento de inteligência artificial, a proliferação de robôs no sector industrial primário e o desenvolvimento de robôs médicos na escala nano (milésimo de milionésimo), que serão inseridos no nosso corpo para realizarem manutenção. O autor prevê, para a década de 2030, o mapeamento total do cérebro humano e a possibilidade de ser realizado o upload da nossa mente num computador muito mais inteligente do que humanos. Para a década de 2040, o autor prevê que as pessoas passarão a maior parte do tempo imersas em realidade virtual e que existirão híbridos humanos-robô, potencialmente imortais.

É óbvio que parece uma previsão extraordinariamente rebuscada. Mas o futuro dá-nos diversos sinais. Em 1997, um computador chamado Deep Blue venceu um conjunto de seis partidas de xadrez contra o campeão mundial Garry Kasparov. Em terras nipónicas insistem em tentar criar robôs feminizados assustadores para fins de gratificação sexual. Na imprensa lêem-se suspiros da cura da sida e de vitórias na batalha contra o cancro. A assistente virtual do Iphone demonstra uma complexidade operativa espantosa.

O filme de Spike Jonze, Her, conta a história de um homem que se apaixona por um sistema operativo com inteligência artificial, carácter humano e personalidade feminina. Esta dramatização envolve uma sociedade futurista onde esses sistemas operativos são tratados como humanos por pessoas desapontadas pela imperfeição complicada da interacção humana real. Os dilemas existenciais surgem relacionados com a dificuldade em aferir se, num mundo onde a inteligência artificial é comparável com a inteligência humana, os sistemas operativos são uma forma real de existência.

Eu não gosto desta visão do futuro, mas recuso-me a ceder a tendências luditas. Não recuso os produtos do avanço do engenho humano. Não choro de nostalgia pela falsa romantização de certos períodos do século XX. Eu não sei como será o mundo em que viveremos no futuro distante, mas, se for de alguma forma semelhante ao futuro projectado, e se for tão horrendo quanto o plano do novo estádio do Real Madrid, espero que tenham o bom senso de inventar também uma máquina do tempo, para que eu possa fugir para o passado.

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