segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vende-se: Madeira e Açores


O país sustém a respiração enquanto espera pelo veredicto sagrado do Tribunal Constitucional. Estamos num estado de animação financeira suspensa. Mas é ingénuo pensar que esta decisão é, de facto, assim tão importante. Independentemente do resultado desta decisão, sabemos que não temos soluções ou alternativas. Os portugueses não sabem o que querem. Os portugueses apenas sabem o que não querem.
Os portugueses não querem aumentos de impostos e não querem cortes na despesa. Portanto, ofereço aqui o meu pequeno contributo para a resolução da crise. Muitos poderão não gostar desta solução. Mas eu garanto que funcionará e que será (quase) indolor.

Uma reportagem do Washington Post analisava a possibilidade dos Estados Unidos venderem o estado do Alasca para abaterem a sua dívida galopante. O estado americano está avaliado entre 2,5 e 5 biliões. À primeira vista, pode não parecer uma ideia válida. Ridícula, até. Mas com a crise financeira americana esta ideia deveria aglomerar um apoio popular abrangente, que é aquilo que eu espero receber com a minha proposta.

Então, é com muito pesar que proponho o seguinte: vender a Madeira e os Açores. Lamento fornecer munição àqueles que argumentam que o Governo está a vender as jóias da coroa ao privatizar as empresas públicas. Mas na minha opinião, o tempo de vender os anéis acabou. Agora é tempo de vender alguns dedos.

Eu sei que, perante esta proposta aberrante e inusitada, a primeira reacção do leitor será um estado singular de desprezo, indiferença e divertimento. Mas peço e imploro por um momento de seriedade, lucidez e paciência. Pensem bem. Vendemos dois arquipélagos e não temos que aumentar os impostos nem cortar na despesa. Não existe outra solução que possibilite este limbo financeiro orgásmico.

A logística desta operação é menos complicada do que pode parecer para a mente mais céptica. Em primeiro lugar, cerca de 500 mil pessoas habitam nestas formações rochosas isoladas. Essas pessoas terão que ser realojadas no ventre morno da pátria-mãe continental. Tendo em conta os níveis actuais de emigração e a crise nos sectores da imobiliária e construção, parece ser uma solução perfeita. Excepções podem ser concedidas a açorianos e madeirenses cujos sotaques são demasiado profundos para uma integração pacífica no continente. Esses indivíduos deverão emigrar ou a sua permanência poderá ser negociada com os países compradores.

Resolvida a despovoação de mais de três mil quilómetros quadrados de terras exóticas e virginais, podemos começar a falar da transacção. Vários países estarão interessados. Os Estados Unidos possuem uma base militar nos Açores, o que transforma a maior economia do mundo num candidato perfeito para a aquisição completa desse arquipélago paradisíaco. As aspirações de dominação mundial dos ianques beneficiarão certamente de um activo tão precioso quanto um arquipélago no meio do Atlântico. Outros candidatos poderão ser a China, com a sua ânsia de afirmação militar e liquidez monetária, ou a Alemanha, com o seu imperialismo neoliberal e nazismo latente. As monarquias petrolíferas do mundo árabe poderão também estar interessadas numa perspectiva de ganância e empreendedorismo turístico.

Por fim, podemos falar de números. Temos de ter em conta a polivalência utilitária dos arquipélagos. O nosso trunfo é a diversa gama de objectivos que pode ser acolhida no charme vulcânico dos Açores e/ou na glória verdejante da Madeira. A nossa fraqueza é o nosso desespero negocial. Mas falemos, sorrateiramente, então de valores específicos.

Um cavalheiro não fala de dinheiro mas, falando apenas no cenário hipotético da venda dos últimos resquícios do ímpeto colonialista da nação lusitana, eu diria que 100 mil milhões seria um bom preço pelo conjunto. Numa venda separada aceitaríamos 40 mil milhões pelos Açores e 80 mil milhões pela Madeira. Não existe nenhuma fórmula aritmética que me levou a estes números. Simplesmente me parece um número bonito, redondo e maior do que o pacote de empréstimo da Tróica. Ambas as regiões estão altamente endividadas e a sua actividade económica já viu melhores dias. Por isso, e como estamos entre amigos, na compra da Madeira levam também o Rúben Micael. Nós, ficamos com o Cristiano Ronaldo e 100 mil milhões de euros, uma quantia mais do que suficiente para acabar com esta crise e ficarmos no bom caminho para, daqui a dez anos, causarmos a próxima.

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