quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Homo Irrationalis


A reportagem que abriu o Telejornal da RTP desta noite foi um documentário da BBC sobre a vida selvagem de um fascinante espécime: um ser humano estudante do secundário. As características físicas são variadas, mas segundo o que se pôde observar na peça, as mais comuns serão a monocelha e boné nos machos, um péssimo gosto de vestuário das fêmeas e buço em ambos os géneros; particularidades que, também pela amostra, facilmente se conclui serem hereditárias.

A mais encantadora característica deste símio é uma invejável capacidade de contentar-se com migalhas. É fácil compreender a filtragem feita pela jornalista da RTP na montagem da reportagem (quero, pelo menos, acreditar que assim foi). No entanto, os jovens entrevistados mostram todos um regozijo anormal por terem tido "poucas negativas". Excepto um espécime, de nome Mónica, que faz a sua fugaz aparição logo no início da reportagem e que define a sua prestação como "mais ou menos" por ter tido seis negativas, todos os outros parecem satisfeitos por terem tido poucas disciplinas às quais não conseguiram chegar a metade da prestação desejada.

Fátima Trindade, apresentada como Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação, define as turmas separadas de alunos pelo pior desempenho como segregadora pela criação de "turmas dos meninos burros". Apesar do seu cargo pressupor uma maior sagacidade ao falar desta matéria, a senhora revela, sem dúvida, a limitada visão que é a de rotular como discriminatória qualquer observação das óbvias diferenças entre os espécimes.

O que o ministro Nuno Crato afirma, acerca dos diferentes ritmos de aprendizagem dos diferentes alunos, é tão óbvio que qualquer oposição a uma solução, por esta ter esse facto como premissa, é uma demagoga e ingénua preocupação com a igualdade. Já aqui falei sobre isso, mas, apesar de correr o risco de me tornar repetitivo, igualdade nunca existe e nunca irá existir.

As diferenças não irão desaparecer se as ignorarmos; pelo contrário, alastrar-se-ão e intensificar-se-ão. Mais vale encarar as diferenças do que tentarmos viver a utopia de uma sociedade que Aldous Huxley descreveu no Admirável Mundo Novo. Isso, sim, seria a solução perfeita para Fátima Trindade; não haveria turma dos meninos burros, porque este nunca nasceriam. Porém, a genética humana ainda não tem desses luxos, pelo que colocar os meninos burros, que existem, todos juntos, mais não faria senão ensiná-los ao ritmo adequado.

Não o faremos, porém. Democracia é igualdade. Somos todos filhos de Deus. Vamos, fiéis aos nossos princípios, deixar o menino burro com os outros meninos, porque é igual a eles; até que chega o momento em que a vida lhe mostra que não é igual. Aí, estou certo, não estará lá a Fátima Trindade para amamentar o jovem primata com enganosas ilusões.

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