quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

More than F.R.I.E.N.D.S.

Numa era em que a sociedade se bipolariza cada vez mais entre os polícias do politicamente correcto e os rebeldes da polémica avulsa, quero partilhar uma história curiosa: aquando do 11 de Setembro, esta cena de um episódio de Friends foi excluída da transmissão televisiva. A cena é protagonizada por aquele que é inevitavelmente o meu personagem favorito da série, o mestre do sarcasmo Chandler Bing. Em plena lua-de-mel com a sua alma-gémea - a obsessiva-compulsiva Monica Geller - depara-se no aeroporto com o aviso de que é proibido fazer piadas sobre bombas, sequestros de aviões ou tudo o que envolva terrorismo aéreo. Chandler Bing, claro está, faz uma piada sobre o aviso. É detido pelas autoridades às quais, posteriormente, explica que o mal não está nas piadas, está nas bombas, e que se ele tivesse realmente uma bomba não faria piadas sobre isso. Claro que os atentados em Nova Iorque deixaram todo o mundo ocidental em estado de choque e, se há altura em que a extra-sensibilidade é compreensível, aquela é sem dúvida merecedora desse estatuto. Mas a ironia dificilmente poderia ser maior: censuraram um personagem num episódio em que ele alega precisamente que não deviam censurá-lo por fazer piadas sobre algo mau, mas sim censurar quem pratica esse mal. Touché, Chandler, touché.
Eu conheço Friends melhor que a minha própria vida: não sei o que almocei na segunda-feira, mas sei de cor todas as falas, de todos os episódios, de todas as dez temporadas. Passei anos a ver os DVDs religiosamente. Também por já conhecer todas as piadas é que, aos meus olhos, a sua influência é ainda mais palpável. É incontável o número de piadas que ainda hoje se ouvem constantemente em sitcoms, e outras séries de humor, que foram adaptadas, baseadas, ou flagrantemente plagiadas, das palavras dos amigos.
É uma série hilariante, carinhosa, poderosa. O poder é tal que eu sei exactamente a fala que se segue, a expressão e o timing com que vai ser expressa, e continuo a rir-me como um maníaco mal esta é dita. Ver um episódio de Friends é terapêutico, e não só por todas as endorfinas positivas libertadas durante uma sessão de riso descontrolado. É-o porque todos ambicionamos ter uma vida exactamente assim, com amigos com essa honestidade e boa disposição. Uma vida em que até os maiores problemas são relativizados em detrimento das verdadeiramente coisas importantes da vida: diversão e companheirismo. E todos estes valores são-nos passados por um grupo que, fazendo jus ao nome, é aquele que apresentou mais química na história da televisão.
cast de Friends voltará a juntar-se em Fevereiro na televisão. Eu não recebi esta notícia com o entusiasmo que seria de esperar para um confesso fanático. Não se trata de um episódio especial da série, apenas uma participação de todo o elenco num special de homenagem a um dos realizadores. Ficarei com certeza mais triste do que satisfeito. Friends deveria ser eterno, mas acabou na altura certa. Não fez dez temporadas para espremer todo o leite da vaca, erro de tantas séries cometem. Prosseguiu em tempo e evoluiu em qualidade. A última temporada, não sendo a melhor, está repleta de momentos brilhantes que ainda foram a tempo de marcar a cultura popular. À medida que se aproxima do final, apercebemo-nos de que Friends ensina também isso: que o tempo passa, as vidas mudam, mas a essência de sentimentos tão fortes pode permanecer inalterada. É uma tragédia da vida, essa dicotomia entre o desejo de que algo seja eterno, mas a consciência de que se o fosse perderia o valor.
Mas há coisas que ficam para sempre. Quando os Friends se voltarem a juntar, não vamos ter Bamboozled, ou o Ugly Naked Guy, nem sequer o Gunther ou a Janice. Ninguém vai cantar a Smelly Cat, por isso o Ross não pode acompanhar na gaita-de-foles.  Mas porra, os amigos vão-se rever e nós vamos rever os nossos amigos. Nas palavras de Mr. Bing, «that makes me feel so warm in my hallow tin chest».

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