segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A Estrela de David

É o facto mais poético da vida: todos nós somos organicamente formados por matéria que teve origem em estrelas mortas. Stardust, chamam-lhe em inglês.
Bowie viveu e criou no equilíbrio que existe entre a harmonia e a diversidade do cosmos. Entre o caos e o sentido. Entre a ordem e a poesia. A escolha da Space Oddity para banda sonora da chegada à lua faz sentido para além da letra e temática espacial da música; Bowie é uma figura universal.
A pop é agora um termo quase depreciativo. A universalidade da diversidade e inovação deu lugar à universalidade da simplicidade e artificialidade. A pop de Bowie era uma macedónia enérgica de todos os estilos musicais fundidos num género próprio. Foi essa a sua criatividade, a sua unicidade. Era excêntrico, flamboyant, por vezes bizarro, quase esquizofrénico. Era original.
Bowie morreu dias depois de lançar o seu último disco, ciente de que o estava a fazer. Passarei os próximos dias a ouvi-lo, escutando atentamente as obras de um homem perto da linha de chegada, prestes a ser libertado. Dificilmente se conceberá estado espiritual mais honesto para a criação artística. Ninguém sabia da sua doença; Bowie foi-se embalado por admiração e respeito, não por pena e comoção. Até a esvair-se no cosmos foi diferente. Dizemos dos mortos que são mais uma estrela no céu. Bowie soube cintilar na vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário