segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Guerra dos Sexos


Quando eu tinha dezasseis anos, mostrei a uma colega, numa aula de filosofia, duas páginas rabiscadas e parcialmente rasuradas de um pequeno texto que se assemelhava a um início de um romance. Continha apenas um enquadramento espacio-temporal da história, não indicava sequer personagens. Ela disse-me que eu escrevia como uma velha.

Fiquei, na altura, extremamente ofendido. Não por ter uma escrita idosa; prefiro que a minha escrita seja identificada com alguém mais velho do que a minha tenra idade seja perceptível nas minhas palavras. O que me ofendeu foi escrever como uma mulher.
Os homens, na quase totalidade dos casos, escrevem melhor do que as mulheres. Este pressuposto, que eu apresento de forma factual e não opinativa, é naturalmente polémico, mas é uma realidade incontornável. Não desconheço os grandes nomes femininos da literatura; mas Jane Austen, Virginia Woolf, Isabel Allende, Agatha Christie e companhia ficam a anos-luz dos grandes mestres.

A explicação terá, naturalmente, raízes históricas: a alfabetização das mulheres foi tardia e pouco abrangente, pelo que é natural que sejam os homens mais reconhecidos pelas suas ideias. Se apenas os homens tinham acesso ao conhecimento, é uma consequência lógica que apenas estes possam usufruir dele para o fazer evoluir. Este facto, porém, não se limita à actividade literária. Pelo contrário, é comum a todas as áreas do conhecimento, quer humanístico, quer científico. Na sociedade actual, de igualdade no acesso ao ensino e de universalidade de acesso à informação, isto foi quase totalmente ultrapassado. Mas não confundamos os conceitos: equidade não é igualdade. A equidade é um pilar democrático; a igualdade é utópica e perigosa.

A luta por essa equidade não deve fazer-nos ignorar as características idiossincráticas de cada um dos géneros. O problema é que a sociedade se vê ainda assombrada pelos fantasmas da superioridade masculina. Está a dar-se com os sexos o mesmo fenómeno que se deu depois do final da discriminação racial, a que eu chamo de preconceito invertido. Recordo-me de uma situação, numa fila de uma padaria, em que um sujeito de raça negra pediu às pessoas para passar à sua frente. Como isso não lhe foi concedido, queixou-se de discriminação. Começa a passar-se o mesmo com as mulheres. O feminismo foi útil no tempo em que se queimavam sutiãs; agora, na sua forma de machismo invertido, assume outras proporções perigosas.

Assisti a um exemplo paradigmático disto mesmo no programa Real Time, um programa de comentário político da cadeia americana HBO, apresentado pelo humorista Bill Maher. Anne Coulter, uma figura pública de cariz conservador, acusou Bill Maher de ser misógino por este criticar frequentemente Michelle Bachmann e Sarah Palin. A resposta do apresentador foi contundente: "They just happened to be women. Do you really think I'm harder with them than I was with Bush, a penis-carrying man?". Mesmo considerando a estupidez de Coulter enquanto fonte da acusação, esta traduz este sentimento de atribuir machismo a quem não for feminista.

Isso origina a existência de mulheres com mediatismo que assumem uma postura de "cheguei aqui, apesar de ser mulher"; um comportamento geral, independente das suas ideias, mérito ou espectro político, e completamente descontextualizado da conjetura actual de equidade social. Como exemplo, temos Clara Ferreira Alves, Joana Amaral Dias, a ministra Assunção Cristas ou, noutro estilo mais histérico, Ana Drago ou Heloísa Apolónia. Repito: nada tem a ver com o que dizem, mas sim com a sua postura geral que é idolatrada pelas mulheres, mas que deveria, mais até para elas, ser ofensiva.

Esta fenómeno já é perigoso no contexto social, mas ainda mais fica quando atinge o espectro político. Tem sido demasiadas vezes colocada em cima da mesa a possibilidade de medidas que visam forçar a paridade na Assembleia da República, nomeadamente através da introdução de percentagens obrigatórias de lugares ocupados por mulheres das listas candidatas. Esta medida tenta, através da brutalidade legislativa, acelerar um processo que se quer natural numa sociedade democratizada e é, na sua essência altamente anti-democrática. Duas duas uma: ou aceitamos que o que temos no meio das pernas não conta para nada, e portanto não se legisla sobre isso; ou admitimos que é importante e o feminismo terá de assumir a mesma conotação de crueldade e de sentimento de superioridade do machismo.

Porque as diferenças existem, e todos as conhecemos. A equidade já foi atingida, e essa questão ultrapassada. Mas paridade não é igualdade de qualidades e defeitos inerentes ao sexo. Os homens são melhores na escrita, as mulheres serão beneficiadas noutras coisas. Não é ultrapassar as diferenças que falta na sociedade; aceita-las, sem fantasmas nem preconceitos, é que é o passo que falta para a pacificação da luta entre os sexos.

4 comentários:

  1. Concordo plenamente! Querem igualdade de sexos, mas se levarem um estalo já são meninas para dizerem "bateste numa mulher"! enfim!!

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  2. "Os homens, na quase totalidade dos casos, escrevem melhor do que as mulheres. Este pressuposto, que eu apresento de forma factual e não opinativa, é naturalmente polémico, mas é uma realidade incontornável." ???

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  3. Era bom que uma Florbela te Espancasse.

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  4. Não é preciso uma Florbela para espancar o Diogo, estou cá eu.

    Tu, não me digas, que escreves melhor do que eu, meu patife?

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