O ponto mais alto da febre Chuck Norris já passou, mas esta
ainda subsiste. A real dimensão deste fenómeno verdadeiramente cultural,
à escala planetária e instilado nas teias da Internet, é incognoscível, dadas
as estratosféricas referências. Como nenhum terráqueo, Chuck Norris é
omnisciente, omnipresente e omnipotente. Os mais ousados dirão que teve nas
suas narinas a origem do furacão Katrina e que o desastre nuclear de Fukushima
teve ocorrência após ter degustado a feijoada da cantina de Direito. Tudo
pertence, como é evidente, a um cúmplice imaginário colectivo a que a Carlos
Ray Norris Jr somente cabe não fazer nada de muito clamoroso para contrariar.
Cabia. Somente cabia. É precisamente aqui que quero chegar. Acabou:
quem quiser continuar a fazer estas piadas com legitimidade que não veja o
vídeo que encima este texto. Embora, doravante, o fará com a ténue legitimidade
do não conhecimento da situação. O mais fascinante é que bastam apenas os oito
segundos iniciais para tudo ruir. Quando estamos a falar de um espécime que em
si concentra mais testosterona que a soma de todos os demais, a Chuck Norris
não basta sê-lo virtualmente, tem de o parecer. Não pode principiar a sua intervenção
aparentando ser um dançarino homossexual esquizofrénico enquanto se apresenta a
si e à sua mulher. Muito menos afirmar, de seguida, que ali se encontra para falar
de uma preocupação que todos partilhamos. A ele? Chuck Norris não tem qualquer
tipo de problema, muito menos mundanas preocupações. Nem partilha o que quer
que seja com os remanescentes seres viventes.
A totalidade do vídeo é uma afronta ao comum mortal com o
mínimo de capacidade crítica. Tanto em forma como em conteúdo é puramente
burlesco. Consigna expressões
que até para a demagogia são demagógicas, como: “the way of socialism or
something much worse” e “We will preserve for our children this last best hope
of man on earth, or we will sentence them to take the first step into a
thousand years of darkness”.
O aviso está dado: quem votar em Obama poderá contar com a
verberação de Chuck Norris. Pouco interessa. Não haverá mais quem acredite,
nem o maior dos inocentes e dos cobardes, que Chuck Norris irá, com impiedoso
estropício, interpelar esses hereges dissidentes num plácido momento no seio do
seu lar. É sempre miserável, embora seja sempre assim que acontece, quando a destruição de um ícone vem com a sua fatal e incontornável humanidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário