sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Chuck Norris





O ponto mais alto da febre Chuck Norris já passou, mas esta ainda subsiste. A real dimensão deste fenómeno verdadeiramente cultural, à escala planetária e instilado nas teias da Internet, é incognoscível, dadas as estratosféricas referências. Como nenhum terráqueo, Chuck Norris é omnisciente, omnipresente e omnipotente. Os mais ousados dirão que teve nas suas narinas a origem do furacão Katrina e que o desastre nuclear de Fukushima teve ocorrência após ter degustado a feijoada da cantina de Direito. Tudo pertence, como é evidente, a um cúmplice imaginário colectivo a que a Carlos Ray Norris Jr somente cabe não fazer nada de muito clamoroso para contrariar.

Cabia. Somente cabia. É precisamente aqui que quero chegar. Acabou: quem quiser continuar a fazer estas piadas com legitimidade que não veja o vídeo que encima este texto. Embora, doravante, o fará com a ténue legitimidade do não conhecimento da situação. O mais fascinante é que bastam apenas os oito segundos iniciais para tudo ruir. Quando estamos a falar de um espécime que em si concentra mais testosterona que a soma de todos os demais, a Chuck Norris não basta sê-lo virtualmente, tem de o parecer. Não pode principiar a sua intervenção aparentando ser um dançarino homossexual esquizofrénico enquanto se apresenta a si e à sua mulher. Muito menos afirmar, de seguida, que ali se encontra para falar de uma preocupação que todos partilhamos. A ele? Chuck Norris não tem qualquer tipo de problema, muito menos mundanas preocupações. Nem partilha o que quer que seja com os remanescentes seres viventes. 

A totalidade do vídeo é uma afronta ao comum mortal com o mínimo de capacidade crítica. Tanto em forma como em conteúdo é puramente burlesco. Consigna expressões que até para a demagogia são demagógicas, como: “the way of socialism or something much worse” e “We will preserve for our children this last best hope of man on earth, or we will sentence them to take the first step into a thousand years of darkness”. 

O aviso está dado: quem votar em Obama poderá contar com a verberação de Chuck Norris. Pouco interessa. Não haverá mais quem acredite, nem o maior dos inocentes e dos cobardes, que Chuck Norris irá, com impiedoso estropício, interpelar esses hereges dissidentes num plácido momento no seio do seu lar. É sempre miserável, embora seja sempre assim que acontece, quando a destruição de um ícone vem com a sua fatal e incontornável humanidade.

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