quarta-feira, 26 de abril de 2017

Não há cravos na Venezuela

25 de Abril, ano após ano, agradecemos a liberdade a quem odeia a liberdade. O PCP sobrevive de uma herança que reclama para si. Apropriou-se de tal forma desses valores que parecem confundir-se. Por isso mesmo pode sair impune de defender regimes que atacam os valores que embandeiram. O exemplo norte-coreano é clássico e caricatural. Sabemos agora que estão sozinhos na aprovação do regime opressor de Maduro na Venezuela, enquanto celebram os seus patrióticos feitos na nossa liberdade.
Certo é que PSD e CDS também ousaram ser contra o voto de condenação pela prisão dos activistas angolanos. Podemos levantar a questão: é mais legítimo compactuar com regimes criminosos e déspotas por interesse político ou económico do que por ideologia? Maquiavel acena-me que sim do século XVI. Eu vou apenas afirmar que, se a ideologia são valores, esta desaparece sem eles.
Apresentam-nos o populismo como um perigo para a democracia, e consequentemente para a liberdade. Chavez era um paradigmático populista. O seu herdeiro vai seguindo esse populismo, não na versão carismática de proximidade e identificação com o povo, mas ao culpar a elite económica mundial e os agentes capitalistas pelo falhanço económico e social do seu governo.
Chamemos-lhe pós-verdade, narrativas, perspectivas. Por exemplo, colocada a questão "a que se deve a escassez de alimentos e medicamentos na Venezuela?", podemos olhar para o regime como vítima da descida do preço do petróleo, responsável por 96% da economia venezuelana. Se o fizermos, deixamo-nos levar pela teoria das ingerências externas e verborreia anti-capitalista. Embarcar nisto é ignorar um pequeno facto: sem capitalismo, o petróleo é água suja que só serve para munir de gasolina os pirómanos.
Podemos, como alternativa, observar que a obsessão com os ataques à propriedade privada levou a constantes expropriações estatais. Podemos culpar a corrupção que assola o sistema público venezuelano. As chamadas missões bolivarianas de Chavez fizeram aumentar exponencialmente a dívida pública. E podemos olhar para o crescendo de criminalidade como consequência de um estado de impotência, de desespero. Como sobrevivência.
De cravo na lapela, comunistas dão-nos lições de liberdade. De quão gratos devemos estar pelos seus antepassados. Mandam todos respeitar a democracia e a separação de poderes. Na Venezuela, o duelo entre regime e oposição tranformou-se numa guerra entre o poder judicial e o legislativo. Aqui que se lixe Montesquieu.
Ah, e um pormenor que é importante de referir: Maduro é louco como uma cabra. Não é ideologicamente louco, é mesmo patológico. Nem sou eu que o digo, é o presidente do Uruguai. Não é caso para menos. Maduro viu a cara do Chavez numas obras. Sugeriu uma medida de poupança de energia que consiste nas mulheres deixarem de usar secador de cabelo, dizendo até que ficam melhor quando só passam os dedos pelo cabelo e deixam secar ao natural. Cria milícias de civis. Sou um optimista, mas se razões políticas e humanas não são suficientes para condenar este homem, insanidade poderia ser.
Festeja-se a revolução, proliferam elogios às liberdades conquistadas, aos direitos adquiridos, aos chamados valores de Abril, que, ironicamente, a esquerda trata como sua propriedade privada. Hoje, 26, o sol raiou com silêncio. Chavez não foi Salazar, Maduro não é Américo Thomaz. E a luta de um povo sem voz e sem condições básicas de vida, munido de pedras e paus, contra um regime socialista asfixiante não tem a mesma honra de um grupo de militares. A hipocrisia é quem mais ordena.

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