terça-feira, 18 de outubro de 2016

Os 100 Craques Que Mais Me Marcaram (#100 - 80)

Ah, futebol... A dimensão religiosa dos ateus, a mais barata das drogas, o mundo onde uns centímetros fazem a diferença entre um lugar na história e um lugar no Candal.
Em tantos anos como apreciador deste nobre ofício, homens houve que se elevaram sobre os comuns mortais e me fizeram perder anos de vida só para os ver brilhar. Propus-me, por desafio pessoal, a realizar a desconfortável tarefa de elaborar uma lista de cem artistas, que compilasse aqueles cujo futebol mais entusiasmou.
No decorrer dos próximos dias, irei apresentar esta lista, dividida por cinco partes. Não houve metodologia científica envolvida neste processo. Esta compilação é resultado da contemplação do futebol enquanto arte. Arte com toda a acessão desse termo, aos níveis da criatividade e da emoção inerente.
A ordenação foi o misto possível entre o prazer que retirei do seu jogo e a sua marca no futebol como um todo. É tão arbitrária que eu próprio dou por mim a contestá-la. A hierarquia é, portanto, secundária e um puro exercício de organização. Sem mais delongas, eis os artistas:

100 - Mario Gómez - El Torero nasceu com um dote raro: o de saber sempre onde se colocar. A zona ideal, onde a bola poderia e deveria cair, parecia iluminar-se para ele, pela aparente facilidade com que surgia no espaço. Brincava com o risco do fora-de-jogo como um equilibrista e, com a oportunidade, era letal com qualquer parte legal do corpo. Campeão no Estugarda e no Bayern, onde somou golos bissemanais. Ah, e os dois tentos à Holanda no Euro 2012 são para ver e rever; pela estética e como recordação de que a técnica de Gómez, entretanto enferrujada por consecutivas lesões, não costumava ser assim tão rudimentar.

99 - Shunsuke Nakamura - Os seus livres eram drones tão precisos que se eles os enviasse para a Síria, os americanos não teriam mais de se preocupar com a possibilidade de atingir hospitais pediátricos. As curvas que desferia desafiavam as leis do movimento de Isaac Newton . Um ídolo no Celtic, quando esta equipa clássica frequentava mais amiúde os grandes palcos europeus. O melhor jogador asiático do meu tempo de vida.


98 - Diego Forlán - Depois de uma passagem desastrosa por Manchester, afirmou-se em Espanha como um dos grandes avançados a jogar na Europa, ao serviço de Villareal e Atlético. Móvel, engenhoso, tecnicamente munido e proprietário de um pontapé aprimorado, consolidou definitivamente o seu lugar na elite do futebol no Mundial 2010, onde foi eleito melhor jogador da competição após carregar o Uruguai até às meias-finais.

97 - Mário Jardel - O drogado que, aquando da eleição como deputado estadual no Brasil, se identificou como sendo politicamente de direita por ser "um cara direito demais", foi em tempos um sanguinário assassino em série. O seu tempo de salto e precisão de cabeçadas eram de tal forma marcantes que deram a Carlos Tê a analogia lírica perfeita . Fez com os cruzamentos de Drulovic e as movimentações de João Vieira Pinto magníficos casamentos. Na época seguinte à sua saída das Antas, o desconhecido Pena apresentava-se no F.C. Porto para ocupar o seu lugar na equipa, afirmando "Meu nome é Pena, não Jardel". Que Pena não ser Jardel.


96 - Jerôme Boateng - Esta positiva impressão é recente e gradual. Inicialmente, era um pino. Um daqueles polivalentes à John O'Shea, que joga mal em todo o lado. Depois, comecei a ver um central muito rápido e vigoroso. Desde a última época, promete mudar o paradigma do defesa central, ao construir jogo de forma tão constante como um médio criativo. Os seus passes longos são tão imaginativos e precisos que é difícil acreditar que se trata do mesmo matacão que tremia sempre que a redondinha lhe era enderaçada.


95 - Michael Carrick - Poucos médios terão sido tão injustamente desvalorizados. Além de uma capacidade anormal de passe e leitura de jogo, a sua inteligência posicional elevam-no acima dos demais, de uma forma tão relevante quanto subtil. Não se convençam por mim: esta laudatória lista de citações sobre Carrick por parte de algumas das lendas do desporto transmite a sua relevância melhor do que eu alguma vez poderia.

94 - Diego Godín - Se grande parte do mérito atribuído ao sucesso recente do Atlético está na liderança de Simeone, é preciso não esquecer o seu alter ego no relvado. Godín é a personificação da impetuosidade, concentração, competitividade e compostura táctica que caracteriza o batalhão que é este balneário. Na última jornada da época 2013/2014, marcou no Camp Nou o golo que deu o título ao Atlético, um prémio justíssimo para o grupo e, especialmente, para o comandante dessa armada.

93 - David Trezeguet - Este radioso sorriso do Rei David nos festejos é uma das mais vivas memórias futebolísticas da minha infância. O mais conhecido destes sorrisos foi na final do Euro 2000, quando havia golos a dar taças automáticas. Época após época, na Série A e na Champions, os golos caíam em catarata. Conhecia cada palmo da área como se fosse a sua sala de estar. Era ágil, inteligente e fulminante.



92 - Gheorge Hagi - Junho de 2000, eu tinha 9 anos e estava num casamento. Numa pequena sala, os convidados masculinos acumularam-se à volta de uma pequeníssima televisão para assistir ao Portugal - Roménia, do Europeu. Por entre cabeças e mau contacto na antena, distinguia-se nos romenos alguém que tratava a bola com tal subtileza e sabedoria que passei a acreditar em amor à primeira vista. Era o Maradona dos Balcãs, já com avançados 36 anos, a dar lições de futebol a jovens aficionados como eu. Um irrefutado craque.

91 - Fabio Cannavaro - Há um qualquer fenómeno místico em terras transalpinas que fomenta o surgimento dos defesas mais correctos e eficientes. Quando já não havia Baresi ou Maldini, Cannavaro conduziu a defesa italiana que foi a base da vitória no Mundial 2006. A sua eleição como melhor do mundo esse ano foi tudo menos unânime, mas ninguém atreve atacar a influência e qualidade deste central, que pouco mais alto era do que Moutinho.


90 - Juan Cuadrado - Considerado um flop no Chelsea, e sendo actualmente a terceira opção para o lugar de ala direito na Juventus (atrás de Dani Alves e do limitado Liechsteiner), limito-me a ter de remeter os leitores para o texto que redigi em 2014 de forma a justificar a inclusão deste tremendo talento.




89 - Jaap Stam - Se o leitor acha que o seu chefe é assustador, nunca teve de ser marcado homem a homem por este titã. Intimidava com o seu tamanho e a sua postura de liderança. Um Adamastor que não permitia dobrar o seu cabo. Eleito melhor defesa da Liga dos Campeões por duas vezes consecutivas e presença assídua na selecção holandesa, é um dos últimos da sua espécie.


88 - Henrik Larsson - A minha mãe sabe o quão temível era este sueco, já que teve de lavar a minha roupa interior depois da final da Taça UEFA de 2003. Duas golpadas certeiras, e no último lance do jogo, até Pedro Emanuel desesperou por ter cedido canto, consciente de que poderia ter dado a Larsson um pitéu perfeito, mortífero que era de cabeça. Acabou a carreira com 471 golos, entre equipas suecas, Celtic, United, Barça e selecção. Quando era golo e ele estava em campo, não era preciso ir ver quem marcou.



87 - Lúcio - Um chefão à antiga. Feio, mandão e insuperável na impulsão. Depois de uma carreira na Alemanha, onde ao serviço do Leverküsen foi melhor jogador da Bundesliga em 2002 (ano em que foi campeão mundial com Scolari e Anderson Polga) e posteriormente tricampeão pelo Bayern, ainda foi para o Inter limpar a Liga dos Campeões. Aliava a dureza a uma impressionante velocidade, rigor e personalidade.


86 - Hulk - Chegou em dia de apresentação, com nome de super-herói, um promissor arcaboiço, mas o Q.I. futebolístico de um Sancidino com trissomia. Cresceu e, com ele, cresceu o meu Porto. Balas de canhão, arrancadas devastadoras, demolia de tal forma nos contactos físicos que os árbitros desconfiavam da sua legalidade. Depois dos jogos contra o Benfica na época de Villas Boas, se Givanildo me fizesse uma serenata propondo matrimónio, sentir-me-ia impelido a aceitar.



85 - David Alaba - Quando Guardiola diz que um jogador é um Deus, temos de prestar atenção. A dimensão de polivalência que a sua carreira assumiu não é circunstancial. Alaba é adaptável e mutável porque tem todas as características de que um jogador precisa em qualquer posição e para qualquer função táctica. E um pé esquerdo que leva a bola a cair onde ele bem entender.



84 - J. S. Verón - Quem cresceu a ver a Argentina do início do século, tem de se lembrar deste careca que era tão raçudo quanto talentoso. Brilhou na Série A e na Premier League, onde encantava pela força, stamina e visão de jogo. Quando se lembrava de puxar a culatra, o guarda-redes só poderia esperar que a bola não lhe quebrasse o nariz.



83 - Cesc Fábregas - No Arsenal, tornou-se um dos jogadores mais talentosos e respeitados do planeta. Um médio com uma formidável classe e discernimento. Depois de vários defesos cheios de novelas, regressou à Catalunha, onde inevitavelmente encaixou como a última peça do puzzle. Foi uma ajuda predominante na Espanha que conquistou tudo. A sua argúcia táctica até lhe permitiu jogar a falso 9. O seu actual momento de forma não apaga tudo o que construiu.



82 - Michael Ballack - Até o Fenómeno o lixar na final, o Mundial 2002 foi seu. Um médio de elite tremendamente completo, fisicamente robusto e com invejável engenho. Sabia tudo sobre o jogo e fartou-se de marcar golos pelo seu potente remate e noções do espaço. E não se controlava quando a UEFA impunha a sua lei sobre a lei da justiça desportiva.



81 - Oliver Kahn - Um dos jogadores mais carismáticos da história e provavelmente aquele com pior feitio. Acumulou episódios de raiva dignos de um pittbull maltratado. Era um espectáculo dentro do espectáculo. Por trás desta problemática personalidade, estava um dos melhores de sempre a calçar as luvas. Grande, intimidante, marcar-lhe um golo era penosa tarefa. Ganhou tudo o que havia para ganhar ao serviço do seu Bayern e foi eleito melhor jogador do Mundial 2002, apesar do frango concedido ao Fenómeno na final.


80 - Rio Ferdinand - Em 2008/2009, o Man. United bateu um dos mais impressionantes recordes defensivos do jogo, conseguindo catorze jogos consecutivos sem sofrer golos na EPL. Ferdinand formava então com Vidic aquela que foi a mais rija e inabalável dupla de centrais que presenciei. Nas duas transferências que protagonizou, para Leeds e depois para o Man. United, bateu o recorde do defesa mais caro do futebol. Um impressionante atleta, sólido, carismático e com uma tremenda influência em todo o grupo.

1 comentário:

  1. Então, Diogo, queres vir até cá ou é a tua mãe que te obriga?

    Onde preferes ficar no Jochen ou comigo?

    Ein spannendes Abenteuer beginnt am 4. Januar 2017!

    ResponderEliminar